Eles prestaram relevantes serviços à comunidade

Nossa gente Nossa História
Foto: Acervo familiar
Foto: Acervo familiar

Eram professores, músicos, religiosos, militares, advogados, empresários, trabalhadores rurais ou simples donas de casa. Todos, no entanto, de alguma forma e dentro de seus limites procuraram ajudar o próximo, auxiliar os mais necessitados, lutar por melhores condições de vida e por dignidade para os conterrâneos. E mais: procuraram, a todo o custo, repassar às novas gerações as lições da escola, o fazer rural, a arte e a música, a disciplina do esporte, os segredos da costura, do bordado e da culinária. Deixaram um legado que ninguém mais esquece.


João Evangelista  Marques Guimarães

Professor, músico, avô dos padres

Professor por quase 30 anos em Morro Vermelho. Casou-se em 30 de janeiro de 1849, na Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Caeté, com Maria Rodrigues de Oliveira Lima, com quem teve 13 filhos. Em 1857 foi designado professor do primeiro grau de instrução primária de Morro Vermelho. Em 1869, foi designado professor substituto da escola de Santana do Alfié (São Domingos do Prata). No mesmo ano, retornou à escola primária de Morro Vermelho.

Em 1867, junto com autoridades e dezenas de cidadãos de Caeté, assinou manifesto de apoio ao vice-presidente do Estado Elias Pinto de Carvalho, ex-juiz de direito de Caeté. Também assinaram o documento João Evangelista Pinheiro, juiz de Paz de Conceição do Rio Acima; Manoel Lopes de Magalhães, juiz de Paz de Morro Vermelho; Jacinto Evangelista Pinheiro, Domingos Evangelista Pinheiro, Cândido Evangelista Pinheiro, Matheus Lopes de Magalhães e dezenas de outros cidadãos de Morro Vermelho, Caeté e Rio Acima.

Em 1883, João Guimarães solicitou aposentadoria por ter trabalhado 30 anos como professor. Em 1890, junto com o filho Firmino e dezenas de cidadãos de Santo Antônio do Rio Acima, assinou documento de protesto contra a nova lei do casamento civil no Brasil. Faleceu em 19 de junho de 1893 em Morro Vermelho. Nota sobre o seu falecimento publicada no Diário Oficial de 26 de junho de 1893 informa: “Em quase 30 anos em que exerceu o magistério primário jamais solicitou ao governo licença nenhuma e nem vantagens a que tinha direito por lei”.

Os 13 filhos: João Evangelista Marques Guimarães Júnior (1850); Firmino Evangelista Marques Guimarães (1851); Antônio Evangelista Marques Guimarães (1852); Cândido Evangelista Marques Guimarães (1855); Lina Maria de Jesus (1857); João Batista Evangelista Marques Guimarães (1857); Porfírio Evangelista Marques Guimarães (1860); Dâmaso Evangelista Marques Guimarães (1863); Maria Rodrigues de Oliveira Sobrinho (1866); Henrique Evangelista Marques Guimarães (1868); Mariana Marques Guimarães (1870); Clara Evangelista Marques Guimarães (1872); Pedro Evangelista Marques Guimarães (1874).


Matheus Lopes de Magalhães

Alferes, empresário e líder

Matheus Lopes de Magalhães foi o patriarca de todas as famílias Lopes e Magalhães de Morro Vermelho. Era filho de Domingos Lopes e Rosa Maria de Magalhães, do povoado de São Gens, antiga vila de Monte Longo, na região de Braga, no norte de Portugal. Era neto de João Lopes e Maria de Andrade (paterno), da freguesia de São Miguel de Refojos de Basto, cidade conhecida por um antigo e famoso convento, também na região de Braga, e de Antônio de Magalhães e Joana Lopes Ferreira (materno), da localidade de Lugar de Pica, em São Gens, onde também moravam seus pais. Matheus nasceu em 15 de dezembro de 1784 e no mesmo dia foi batizado na igreja de São Bartolomeu de São Gens pelo padre Bernardo José de Almeida, sendo padrinhos Matheus Gonçalves e Ana de Oliveira, filha maior de Antônio de Barros, todos do Lugar de Pica.

O rico português Matheus Lopes de Magalhães criava gado de alta qualidade e tinha um famoso pomar de uvas e maçãs em área da hoje Fazenda do Geriza

Ainda jovem entrou para uma companhia militar e no início do século 19 veio para o Brasil, chegando a Caeté para reforçar o policiamento. Seguiu a carreira militar até se tornar alferes. Aos 20 anos, em 3 de setembro de 1804, casou-se na Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Caeté, com Joaquina do Couto Barbosa, nascida em Caeté em 1785, filha de Manoel do Couto Barbosa e Tereza de Souza Leal. A celebração foi feita pelo vigário, padre Joselino Anastácio Macedo, sendo testemunhas o capitão e juiz ordinário Domingos Rodrigues Guerra e o capitão Antônio de Novais Campos.

Matheus estabeleceu moradia em Caeté e em Morro Vermelho, comprou fazendas e minas de ouro em Morro Vermelho e Viracopos, que mais tarde foram administradas pelos filhos Antônio Lopes de Magalhães (1808), Manoel Lopes de Magalhães (1809), Tereza Lopes de Magalhães (1811) e Prudenciana Lopes de Magalhães (1818), que também se estabeleceram em Morro Vermelho, onde administravam uma fábrica de ferro. Em 1832, segundo censo do Governo do Província, Matheus Lopes de Magalhães contava com 22 escravos.

O alferes é citado em livro do escritor e pesquisador inglês Richard Burton, que visitou Morro Vermelho em 1867. O antropologista informava que Matheus era homem trabalhador e enérgico, criava gado de boa qualidade, sendo famoso o seu pomar de uvas e maçãs na região hoje conhecida como Fazenda do Geriza.


Padre João de Santo Antônio

Defensor de pobres e escravos, orgulho de Morro Vermelho

O Padre João de Santo Antônio nasceu em 23 de janeiro 1824 em Morro Vermelho e morreu no Convento de Macaúbas (Santa Luzia) em 1913. Filho de João Dias Tavares e Francisneire Sutéria, estudou e ordenou-se padre no Seminário de Mariana, onde exerceu o magistério. Mais tarde, tornou-se missionário apostólico, tendo fixado base no colégio de Macaúbas, em Santa Luzia, onde era professor.

Como missionário, viajou por muitas cidades e povoados de Minas Gerais e numa viagem pastoral foi para o Sertão, onde fundou a cidade de Cordisburgo. Em 1867, censo da Câmara Municipal de Caeté mostra o Padre João como morador de Morro Vermelho, então com 43 anos. No livro “Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho”, o antropólogo e escritor Richard Burton na sua passagem por Morro Vermelho em 10 de julho de 1867 registrou: “…Mal tivemos tempo de passar por uma casa baixa, junto da igreja, onde mora o vigário, Padre João de Santo Antônio, sacerdote que goza de excelente reputação, que não deixa sua cidade e seu rebanho se esquecendo do que vem depois da devoção…”

Em 1869, por ocasião das missões do padre João de Santo Antônio durante 15 dias, ele ajudou a comunidade de Jaboticatubas a levantar o cruzeiro denominado “Do Alto” na Capela de Nossa Senhora da Soledade, às margens da mG-020. Em 1900, o Padre João fundou a Capela de Nossa Senhora do Rosário no distrito quilombola de Pinhões, em Santa Luzia, onde ele hoje dá nome a Escola Estadual com cerca de 300 alunos.

Padre João de Santo Antônio construiu em Cordisburgo a Capela de São José e a Matriz do Coração de Jesus, já reformada

Tutor de João Pinheiro

Padre João também foi tutor do estadista João Pinheiro da Silva. O jornal O Pharol, de Juiz de Fora, registra em 6 de dezembro de 1905, a relação do padre João de Santo Antônio com o jovem João Pinheiro da Silva, nascido em 1860 na cidade do Serro. Ainda adolescente foi levado pelos pais para estudar em Ouro Preto e depois concluiu os estudos em Caeté: “Mostrando sempre segura inteligência e grande vocação para estudos sérios, chamou o fato a atenção esclarecida de um sacerdote ilustrado, o padre João de Santo Antônio, homem erudito e cheio de virtudes, então vigário de Morro Vermelho, distrito de Caeté, e agora residente em Cordisburgo da Vista Alegre. Levando-o para sua companhia, começou a ensinar-lhe as primeiras noções de português e latim, fazendo o mesmo com o irmão mais velho, José Pinheiro da Silva Júnior. O estudante José Pinheiro conseguiu, com o auxílio do padre João de Santo Antônio, matricular-se, tempos depois, no famoso Seminário de Mariana, no que também foi grandemente auxiliado pelo padre João Batista Cornegliolo, sábio professor do seminário que o educou até se ordenar. Sacerdote inteligente e aplicado, obteve o padre José Pinheiro uma cadeira no seminário, entrando logo para ensinar o latim, de que deixou uma excelente gramática, muita apreciada pela clareza e método de exposição didática. Do pouco que recebia como lente, pois minguado era o ordenado do corpo docente do seminário, pensou o exímio latinista em tirar uma pequena parte para auxiliar a educação do irmão João Pinheiro a quem levou de Caeté e o fez matricular-se no colégio para o fim de seguir também a carreira sacerdotal, mas João recusou-se a seguir a carreira monástica.” João Pinheiro depois estudou engenharia em Ouro Preto e formou-se em direito em São Paulo.

O padre João de Santo Antônio também ganhou em toda Minas Gerais a fama de protetor de escravos e dos mais pobres, tendo conseguido de fazendeiros e empresários carta de alforria para muitas famílias negras. Desde o seminário, tornou-se um grande devoto do Sagrado Coração de Jesus, devoção difundida em Minas Gerais pelo primeiro bispo da Capitania das Minas, Dom Frei Manuel da Cruz.

Cordisburgo

Designado missionário por Dom Viçoso, Padre João de Santo Antônio percorreu quase toda Minas Gerais de 1860 a 1880. Em meados de 1883, o padre João de Santo Antônio chegou à região conhecida como Sesmaria Empoeiras e, por se tratar de um lugar com paisagens exuberantes e clima agradável, o padre logo o denominou de “Vista Alegre”, decidindo se estabelecer no local. Para fundar o povoado, necessitava obter a posse de uma área que se encontrava em litígio. Para tanto, contou com a influência de Dona Policena Mascarenhas, uma senhora de posses, que, vendo a Sesmaria Empoeiras ir à praça pública, mandou seu filho Bernardo Mascarenhas arrematá-la em nome do “Irmão João”, cedendo 40 alqueires como patrimônio da igreja.

Assim o padre João deu início à fundação do povoado de Vista Alegre em 21 de agosto de 1883, edificando a capela ao patriarca São José. Ao seu redor, o padre foi distribuindo os lotes.  Na mesma época, o padre João mandou vir da França uma imagem do Sagrado Coração de Jesus e assim nasceu a ideia de se construir um templo para acolhê-la. Em 1885 era a vez de dar início à construção da Matriz, que foi inaugurada em 1894 pelo primeiro arcebispo de Mariana, Dom Silvério Gomes Pimenta. A foi concluída em maio de 1894.

Em junho de 1890, decreto do então governador de Minas, João Pinheiro da Silva, amigo pessoal e protegido do Padre João, elevou o povoado de Coração de Jesus da Vista Alegre a distrito de Cordisburgo da Vista Alegre, município de Sete Lagoas. O padre João registrou o nome Cordisburgo em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus. Anos mais tarde, o padre João doou o que tinha à Matriz do Sagrado Coração de Jesus.

Depois, padre João de Santo Antônio voltou ao convento de Macaúbas, onde faleceu em 15 de setembro de 1913, aos 89 anos.

GUIMARÃES ROSA

Trecho do discurso de posse do escritor João Guimarães Rosa, natural de Cordisburgo, na Academia Brasileira de Letras, em 1967: … “Santo, um Padre Mestre, o Padre João de Santo Antônio, que recorria atarefado a região como missionário voluntário, além de trazer ao raro povo das grotas toda sorte de assistência e ajuda, esbarrou ali, para realumbrar-se e conceber o que tenha talvez sido seu único gesto desengajado, gratuito. Tomando da inspiração da paisagem a loci opportunitas, declarou-se a erguer ao Sagrado Coração de Jesus um templo naquele mistério geográfico. Fê-lo e fez-se o arraial, a que o fundador chamou O Burgo do Coração”.


Irmã Germana

A santinha de Morro Vermelho

Irmã Germana, nascida em Morro Vermelho, entrava em êxtase toda sexta-feira, revivendo a paixão e morte de Jesus Cristo na cruz. O fenômeno, que começara em 1813, durou 40 anos no asilo do alto da Serra da Piedade, onde foi internada aos 26 anos, em Roças Novas, onde morou, e no Convento de Macaúbas, em Santa Luzia, onde faleceu em 1855. A exaltação mística foi testemunhada por milhares de peregrinos, que a veneravam como uma santa e chegaram a confessar milagres. O transe da freira foi estudado na época por cientistas, médicos e pesquisadores e a maior parte deles classificou a crucificação com um fenômeno sobrenatural.

Filha de Marcos Gonçalves Correa e Maria Camila de Nazareth, Germana Maria da Purificação nasceu em Morro Vermelho em 2 de fevereiro de 1782 e foi batizada pelo padre Joaquim Ferreira Barros na capela de Nossa Senhora de Nazareth, sendo padrinhos o alferes João Gonçalves Correia e Francisca Gonçalves Ribas. Desde pequena, ela foi educada no ensinamento do Evangelho pelos pais, que eram pobres, mas cristãos devotos.

Ainda criança, Germana começou a sofrer uma enfermidade que lhe dificultava caminhar, mas mesmo com sofrimento ajudava os pais nos afazeres diários. Aos 26 anos, porém, ficou entrevada a ponto de precisar de mão alheia até para comer. Durante a moléstia, sua devoção crescia dia a dia. Queria jejum total às sextas e sábados e a princípio sua mãe tentou impedi-la, mas Germana dizia que durante esses dois dias era impossível tomar qualquer alimento e daí por diante passava os dois dias na mais completa abstinência.

Milagrosa

Como Germana era paralítica, muito devota e desejava receber com frequência os sacramentos e se entregar aos exercícios da piedade, os pais resolveram procurar o padre José Gonçalves Pereira, capelão da Serra da Piedade, que acudia todos os aflitos e que decidiu acolher a moça no asilo ao lado da capela, onde era acompanhada pela irmã mais nova.

Lá, meditando um dia sobre os mistérios da Paixão de Cristo, entrou em uma espécie de êxtase: seus braços endureceram e estenderam-se em forma de cruz; seus pés cruzaram-se igualmente e ela se manteve nessa atitude durante 48 horas. Este fenômeno se repetiu durante 40 anos semanalmente em todas as quintas para sextas-feiras, conservando-se assim até a noite de sábado para domingo, sem fazer um movimento, sem proferir uma palavra ou tomar qualquer alimento.

Os rumores desse fenômeno espalharam-se logo por toda a parte e milhares de peregrinos, de todas as classes, passaram a testemunhar a crucificação de Irmã Germana, acreditando todos ser um milagre. A freira nascida em Morro Vermelho começou a ser venerada como santa por seus devotos. Médicos que a examinaram declararam que seu estado era sobrenatural, o que fez crescer ainda mais a devoção.

O raro fenômeno da sua crucificação todas as sextas-feiras, por mais de 40 anos, atraiu multidões. O que pode parecer uma lenda, está descrito em uma carta que o padre Pedro Maria de Lacerda, depois bispo, escreveu com seu depoimento pessoal sobre o fato. “Se até aí a Serra da Piedade era bastante frequentada, agora o foi muito mais, depois da chegada de Germana, porque o desusado e raro fenômeno de se apresentar crucificada nas sextas-feiras atraiu um imenso concurso de toda sorte de gente, uns movidos pela devoção, outros pela mera curiosidade”.

Crucificação

Segundo ele, na Sexta-Feira da Paixão de 1813 mais de dois mil devotos chegaram a subir a serra para tentar ver a crucificação de Irmã Germana. Depois o padre José Gonçalves, tutor da moça, fixou residência em Roças Novas e levou Germana consigo. Ali ficou por vários anos, até que Germana fosse levada para o convento de Macaúbas.

O Padre Pedro Lacerda descreve em detalhes o fenômeno da crucificação de Irmã Germana: “Da meia noite de quinta-feira até a noite de sexta-feira ficava Germana desacordada, estendida, com os braços abertos, pés um sobre o outro, cabeça inclinada para um lado. Assim permanecia nesse estado, imóvel, sem tomar alimento nenhum, sem proferir palavra. Somente havia uma interrupção nesse estado, no momento em que ia comungar, quando ela com ligeireza se punha de joelhos. Esse fato da crucificação reproduziu-se constantemente sem falhar uma única sexta-feira sequer pelo espaço de mais de quarenta anos e foi testemunhado por um número sem conta de testemunhas de toda sorte, de toda a parte, muitos e muitos dos quais ainda vivem. Eu mesmo vi o fato da crucificação e da comunhão no ano de 1846 em que estive em Macaúbas”.

Atenção mundial

Com várias obras e muitas expedições pelo Brasil, o botânico, pesquisador e explorador francês Auguste de Saint-Hilaire visitou em 1818 a irmã Germana e publicou um longo depoimento sobre ela, intitulado “A Serra da Piedade e a Irmã Germana” no seu livro Voyage dans le district des diamans et sur le litoral du Brésil (1833).

“Conheci na Serra da Piedade uma mulher de quem falavam muito nas comarcas de Sabará e Vila Rica. A irmã Germana, tal o seu nome, fora atacada dez anos antes (escrito em 1818), de afecções histéricas acompanhadas de convulsões violentas. Fizeram-na exorcismar; empregaram-na remédios inteiramente contrários ao seu estado e o mal agravou-se. Ao tempo de minha viagem, ela chegara havia já muito tempo ao ponto de não poder mais deixar o leito; e a quantidade de alimentos que ela tomava cada dia era pouco maior que a que se dá a um recém-nascido. Ela não comia carne e recusava igualmente as gorduras, não podendo mesmo tomar um caldo. Alguns doces, queijo, um pouco de pão ou farinha, constituíam todo o seu alimento; frequentemente recusava alimentar-se e quase sempre era preciso obrigá-la a comer qualquer cousa”.

Segundo Saint Hilaire, os rumores desse fenômeno espalharam-se logo pelos arredores e milhares de pessoas, de todas as classes, testemunharam-no, acreditando-se em milagre. Ele explicou que a Irmã Germana foi proclamada santa e dois cirurgiões dos arredores aumentaram ainda a veneração pública, declarando por escrito que o estado da doente era sobrenatural. Essa declaração ficou manuscrita, mas circulou de mão em mão, sendo dela tirado um grande número de cópias.

Missa na montanha

O pesquisador informa ainda que um médico muito culto, o dr. Gomide, da Universidade de Edimburgo, achou-se no dever de refutar a declaração dos dois cirurgiões e, em 1814, fez imprimir no Rio de Janeiro, sem o nome do autor, uma pequena brochura, cheia de ciência de lógica, onde tentava provar que os êxtases de Germana não eram senão o resultado de uma catalepsia.

Segundo ele, a opinião do público dividiu-se, mas uma multidão continuou a subir ao alto da Serra para admirar o prodígio. O bispo de Mariana, Cipriano da Santíssima Trindade, compreendeu a inconveniência das reuniões na Serra da Piedade e proibiu a celebração de missas na montanha, mas os devotos derrubaram a decisão do bispo. Germana e as missas voltaram ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade.

O pesquisador revela ainda que, pouco tempo antes da sua estada na Serra, um novo prodígio começara a se manifestar com a santa. Todas as terças-feiras ela experimentava um êxtase de algumas horas e o diretor do asilo dizia que era o dia em que se costumava oferecer à meditação dos devotos os sofrimentos de Jesus crucificado.

Hilaire esteve algumas vezes com Irmã Germana. “Pareceu-me não ter mais de 34 anos, idade que lhe atribuíam. Sua fisionomia era doce e agradável, mas indicava grande magreza e debilidade extrema. Perguntei-lhe como se achava e, com voz quase sumida, respondeu-me que se achava melhor do que merecia”. Segundo ele, os movimentos convulsivos se manifestavam principalmente às três horas da tarde, momento em que Jesus Cristo expirara.

Sagrada em Macaúbas

Irmã Germana chegou ao convento de Macaúbas em 1843 e fez questão de entrar pela porta dos fundos, pois não era freira sagrada pela igreja. Contam que, um tempo depois, ele recebeu visita do bispo da diocese, que a sagrou como freira e lhe entregou o hábito das irmãs e uma imagem do Menino Jesus. Apesar de paraplégica, Irmã Germana teria se levantado, caminhado com alguma dificuldade, saindo do convento e entrando desta vez pela porta da frente. Consta que, a partir dali, nunca mais sofreu com a paralisia.

Na clausura, além de ajudar as demais freiras nos trabalhos cotidianos, Irmã Germana continuava manifestando sua devoção, entrando em êxtase todas as sextas-feiras, até morrer em janeiro de 1855. Foi sepultada, como de costume, dentro do próprio convento. A imagem do seu Menino Jesus e seu hábito de freira são guardados até hoje no convento.


Barão da Estrella

Advogado, fidalgo, empresário, amigo do povo

José Joaquim de Maya Monteiro, o Barão da Estrella, nasceu em Petrópolis (RJ em 1854 e morreu em Morro Vermelho em 1910, aos 56 anos, de inflamação da medula. Era filho do empresário e banqueiro português Joaquim Maya Monteiro, Conde da Estrella.

Reprodução Internet

O Barão da Estrella era casado com Teresa Cristina de Vasconcelos Menezes de Drummond (Baronesa da Estrella), com quem teve duas filhas, Thereza Christina e Isabelle, falecidas menores.

O Barão da Estrella era formado em Direito pela Universidade de Paris. Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial e da Casa Real de Portugal, era amigo pessoal do imperador Dom Pedro II. Foi o responsável pela organização dos funerais do imperador em 1891, em Paris. Recebeu o baronato por decreto de 13 de outubro de 1876.

Advogado e empresário, ainda jovem adquiriu a Fazenda Furnas de Caeté, no Cutão, em Morro Vermelho, com uma área de 580 alqueires, para criação de gado e lavoura, mas decidiu também explorar dezenas de minas abandonadas em suas terras, implantando um sistema moderno e avançado de apuração do ouro. Contratou muitos trabalhadores de Morro Vermelho para trabalhar em suas terras e minas deouro

Do antigo Palácio do Barão, que ficou de pé até a década de 1960, hoje só restam ruínas na antiga sede na Fazenda do Cutão. O casarão de dois andares teria servido, antes do Barão da Estrella, de pousada para fiscais e autoridades da Coroa Portuguesa e do império no século 18.

O Barão da Estrella era muito amigo do povo de Morro Vermelho e sempre que podia participava de rodas de bate papo na porta das casas nas ladeiras do povoado. Em sua homenagem, após o falecimento, o povo deu nome de Beco do Barão à rua que ligava a via principal do povoado ao cemitério, hoje Rua José Cirilo Grillo.


Antônio Evangelista Marques Guimarães (Mestre Totó)

Professor, músico, líder comunitário, pai de seis padres

O professor Antônio Evangelista Marques Guimarães era filho de João Evangelista Marques Guimarães e Maria Rodrigues de Oliveira Lima. Nasceu em Caeté em 15 de dezembro de 1852 e foi batizado em 10 de janeiro de 1853 pelo padre Jacinto José de Almeida na Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, sendo padrinhos Antônio José de Oliveira e Constância Maria de Oliveira. Como o pai, foi professor em Morro Vermelho desde a juventude e era conhecido também como Mestre Totó. Casou-se com Elisa Carolina de Jesus Guimarães, com quem teve nove filhos.

Acervo familiar

Ainda jovem, em 1883 foi designado professor para o distrito de Mocambeiro de Santa Luzia, mas no mesmo ano retornou à escola de Morro Vermelho. Em 1892 foi nomeado presidente da Junta Militar de Morro Vermelho, que tinha como membros Christiano Lopes de Magalhães e João Batista Leal Júnior. Aposentou-se em 1912. Em 14 de novembro de 1932, recebeu do Papa Pio XI a insígnia Comendador da Santa Sé por ter encaminhado ao seminário seis filhos homens, que se tornaram padres.

Tinha 12 irmãos: João Evangelista Marques Guimarães Júnior (1850), Firmino Evangelista Marques Guimarães (1851), Cândido Evangelista Marques Guimarães (1855), Lina Maria de Jesus (1857), João Batista Evangelista Marques Guimarães (1859), Porfírio Evangelista Marques Guimarães (1861), Damásio Evangelista Marques Guimarães (1863), Maria Rodrigues de Oliveira Sobrinho (1866), Henrique Evangelista Marques Guimarães (1868), Mariana Evangelista Marques Guimarães (1870), Clara Evangelista Marques Guimarães (1972) e Pedro Evangelista Marques Guimarães (1874).

Os nove filhos: Padre José Evangelista Marques Guimarães, Padre Nico, (1887); Padre João Evangelista Marques Guimarães (1889); Padre Pedro Evangelista Marques Guimarães (1891); Maria Evangelista Marques Guimarães, Nhá, (1893); Padre Benjamim Evangelista Marques Guimarães (1898); Padre Alberto Evangelista Marques Guimarães (1901); Padre Ephraim Evangelista Marques Guimarães (1903); Cecília Carolina Guimarães (1905); Aurora Maria Guimarães (1909).


João Gonçalves de Carvalho

Tenente da Guarda Nacional e ruralista

O Tenente João Gonçalves de Carvalho era filho de Pedro Gonçalves de Carvalho e Maria Gonçalves de Carvalho e nasceu em 1804 em Morro Vermelho. Em 19 de janeiro de 1830 casou-se com Anna Maria Joaquina de Gouvea, sendo padrinhos Lucas José de Gouvêa, irmão da noiva, e João da Silva de Oliveira.

O tenente era também membro da Guarda Nacional, a guarda de elite do imperador. Foi fazendeiro e juiz de paz em Morro Vermelho.

Os filhos: João Gonçalves de Carvalho Júnior, José Gonçalves de Carvalho, Emílio Gonçalves de Carvalho (1839), Cândido Gonçalves de Carvalho (1840), Luiz Gonçalves de Carvalho (1842), Mariano Gonçalves de Carvalho (1844).

João Gonçalves de Carvalho era antepassado do ex-prefeito Jair de Carvalho e em sua homenagem o povo de MorroVermelho deu seu nome a rua principal do bairro Serafim.


José de Mello de Souza Brandão

Fazendeiro, empresário e juiz de paz

José de Mello de Souza Almeida Brandão nasceu em 1882 e era casado com Maria Bárbara (1892). Filhos: José de Mello (1813), Luiz de Mello (1829), Felippa Antônia (1820), Flávia (1825). Foi lavrador, criador, mineiro e juiz de Paz de Morro Vermelho. Em 1932 tinha 78 escravos, segundo censo feito por ele a pedido de Manoel Ignácio de Mello e Souza, presidente da Província.

Em 27 de abril de 1833, então juiz de Paz de Morro Vermelho, José de Mello de Souza Almeida Brandão publicou no jornal O Vigilante manifesto concitando os cidadãos da região a partirem armados para Ouro Preto e defenderem o então Presidente de Minas, Manoel Ignácio de Mello e Souza. Na chamada Sedição Militar ou Revolta do Ano da Fumaça, um grupo político alcunhado de Caramuru, na ausência do Presidente, marchou para Ouro Preto e tomou o governo de Minas em 22 de março de 1833. Os revoltosos defendiam uma série de medidas e até a volta ao Brasil do Imperador Dom Pedro I.

O movimento soltou presos militares e deportou o conselheiro Bernardo Pereira de Vasconcelos. Durante dois meses a província foi governada pelo líder Soares do Couto. O conselheiro deportado reuniu um grupo de seis mil homens, inclusive gente do Morro Vermelho, sob o comando ao Marechal Pinto Peixoto e, após confrontos, o presidente da Província retornou ao poder.


Jovelina Marques Guimarães (Dona Jove)

Educadora, cuidadora eclesial

A professora Jovelina Evangelista Marques Guimarães (Dona Jove) era filha de Cândido Evangelista Marques Guimarães (Pai Candu) e Belarmina Lopes Magalhães (Mãe Bela) e neta de João Evangelista Marques Guimarães e Maria Rodrigues de Oliveira Lima. Nasceu em Morro Vermelho em 1899 e foi batizada em 11 de novembro na Matriz de Nossa Senhora de Nazareth pelo padre João de Oliveira Lima, sendo padrinhos Pedro da Circuncisão Pinheiro e Clara Rodrigues Guimarães.

Acervo familiar

Durante várias décadas, Dona Jove foi professora no Grupo Escolar de Morro Vermelho e ensinou as primeiras letras a centenas de moradores. Foi também auxiliar do Padre José Evangelista Marques Guimarães (Padre Nico), cuidando da administração da Matriz de Nossa Senhora de Nazareth.

Era solteira e criou dois sobrinhos. Tinha 15 irmãos: Clara Evangelista Marques (1880), Maria Evangelista Marques (1881), João Evangelista Marques (1984), Albertina Evangelista Marques (1885), José Evangelista Marques (1889), Fleuripes Evangelista Marques (1891), Maria Augusta Guimarães (Mica) (1892), Pedro Evangelista Marques (1894), Clodomiro Evangelista Marques Rodrigues (1895), Alice Evangelista Marques (1897), Carlindo Evangelista Marques (1898), Agenor Evangelista Marques (1902), Ivone Evangelista Marques (1904), Olinto Evangelista Marques (1906), Adelina Rodrigues Guimarães (1907).


Padre José Evangelista Marques Guimarães (Padre Nico)

Pároco por 50 anos em Morro Vermelho

Padre José Evangelista Marques Guimarães (Padre Nico) era filho do professor Antônio Evangelista Marques Guimarães e Elisa Carolina de Jesus Guimarães e neto do professor João Evangelista Marques Guimarães e Maria Rodrigues de Oliveira Lima. Nasceu em Morro Vermelho em 1887. Estudou no Seminário Arquidiocesano de Mariana. Foi vigário da paróquia de Pompeu, Minas Gerais, e assumiu em 1911 a Paróquia de Nossa Senhora de Nazareth de Morro Vermelho, onde ficou até falecer, em 1961.

Acervo familiar

Tinha oito irmãos: Padre João Evangelista Marques Guimarães (1889), Padre Pedro Evangelista Marques Guimarães (1891), Maria Evangelista Marques Guimarães (Nhá) (1893), Padre Benjamim Evangelista Marques Guimarães (1898), Padre Alberto Evangelista Marques Guimarães (1901), Padre Ephraim Evangelista Marques Guimarães (1903), Cecília Carolina Guimarães (1905) e Aurora Maria Guimarães (1909).

Além das celebrações e festas na Matriz de Nossa Senhora de Nazareth, padre Nico era responsável pelas capelas nas comunidades dos povoados do Cutão, Ribeirão, Maquiné e Viracopos, onde celebrava missas semanalmente, além de batizados, casamentos e outros sacramentos.

Mantinha diálogo permanente com os moradores da sede e da zona rural de Morro Vermelho, que conhecia um por um pelo nome, e granjeava a amizade de todos. O povo nunca permitiu sua transferência para outras paróquias, apesar da insistência de várias cidades. Hoje dá nome à Rua de Baixo de Morro Vermelho.


Maria Augusta Guimarães (Vó Mica)

Quitandeira, benzedeira e conselheira

Maria Augusta Guimarães, dona Mica, era filha de Cândido Evangelista Marques Guimarães (Pai Candu) e Belarmina Lopes Magalhães (Mãe Bela) e neta de João Evangelista Marques Guimarães e Maria Rodrigues de Oliveira Lima. Nasceu em Morro Vermelho em 1892.

Acervo familiar

Era umas das benzedeiras mais famosas e procuradas de Morro Vermelho e durante muitos anos foi responsável pela ornamentação da bandeira dA Nossa Senhora de Nazareth em 7 de setembro.

Casou-se com Francisco Emílio Lopes, com quem teve seis filhos: Geraldo Emílio Lopes (Geraldo Baixinho), Emílio, Lilinha, José, Pedro e Otília.

Tinha 15 irmãos: Clara Evangelista Marques (1880), Maria Evangelista Marques (1881), João Evangelista Marques (1984), Albertina Evangelista Marques (1885), José Evangelista Marques (1889), Fleuripes Evangelista Marques (1891), Pedro Evangelista Marques (1894), Clodomiro Evangelista Marques (1895), Alice Evangelista Marques (1897), Carlindo Evangelista Marques (1898), Jovelina Evangelista Marques (Dona Jove) (1899), Agenor Evangelista Marques (1902), Ivone Evangelista Marques (1904), Olinto Evangelista Marques (1906) e Adelina Rodrigues Guimarães (1907).


Clarinda da Conceição Pinheiro

Cantora, maestrina, professora, ruralista

Reprodução Internet

Clarinda da Conceição Pinheiro era filha de Francisco de Assis Morais e Maria Jovelina Magalhães (Maria de Cândida). Nasceu em Morro Vermelho em 1929 e era casada com Estêvam Evangelista Pinheiro. Desde pequena seguiu o costume da família de integrar os corais da Matriz de Nossa Senhora de Nazareth e logo aprendeu a ler partituras musicais  passando a comandar o coral que cantava em latim a missa a quatro vozes na Festa da Padroeira e os motetos da Semana Santa. Conduzia também o coral que entoava os cânticos das missas dominicais, cargo que deixou para a filha Maria Madalena, de voz tão semelhante e afinada como a dela.

Também foi trabalhadora rural, enfrentou por muitos anos com o marido e os filhos a administração de uma chácara próxima a área urbana de Morro Vermelho. Teve nove filhos. Morreu em 10 de agosto de 2020, aos 91 anos.

Mulher aguerrida, desde criança ajudava o pai, a mãe e os nove irmãos na labuta do campo. Casada, foi administrar com o esposo as terras da família e, com a morte do marido, passou a cuidar da lavoura e do gado com os filhos. Recebeu o cartório de registro civil de Morro Vermelho da dona Aurora Maria Guimarães e cuidava muito bem de certidões de nascimentos, casamentos e óbitos.


José Pinheiro 

Músico, compositor, maestro, líder rural

José Rodrigues Pinheiro, ou Zé Pinheiro como era mais conhecido, era filho de João Evangelista Pinheiro e Jovita Gonçalves Rodrigues. Nasceu em Morro Vermelho em 1912 e casou-se com Nicolina de Moraes, com quem teve 14 filhos, nove homens e cinco mulheres Trabalhador rural e pequeno proprietário, comandou da Corporação Musical Santa Cecília por muitos anos, deixando um legado de composições musicais, algumas incluídas na Cavalhada Nossa Senhora de Nazareth, repetida anualmente no povoado desde 1704. Também foi organizador e maestro da Coral Nossa Senhora de Nazareth, com presença marcante em todas as festas.


Maria Rodrigues Pinheiro Xavier (Dona Lica)

Bordadeira, quitandeira, líder comunitária

Acervo familiar

Maria Rodrigues Pinheiro Xavier (Dona Lica) nasceu em Morro Vermelho em 15 de maio de 1907. Foi batizada no dia 26 do mesmo mês na Matriz de Nossa Senhora de Nazareth pelo padre Carlos Ferreira Marques, sendo padrinhos Pedro Gonçalves Rodrigues e sua mulher Maria Rodrigues Guimarães.

Era filha de João Evangelista Pinheiro e de Jovita Gonçalves Rodrigues Pinheiro e tinha os irmãos Raimunda Pinheiro do Espírito Santo (Mundinha), Paulo Rodrigues Pinheiro, José Rodrigues Pinheiro e Otília Rodrigues Pinheiro Barreto.

Era casada com José Xavier de Gouvea, com quem teve nove filhos. Dona Lica faleceu em 2008, aos 101 anos.

Exímia quitandeira, costureira e bordadeira, deixou para as gerações futuras um rico patrimônio de arte e cultura, que se espalhou por toda a região: o bordado Bainha Aberta, trabalho artístico já reconhecido em todo o país.

As bainhas abertas chegaram a Minas Gerais com colonizadores portugueses no início do século 18, durante o ciclo do ouro, e sobreviveram nos moldes originais graças ao trabalho silencioso das bordadeiras, que passaram a tradição de geração a geração. Durante toda a vida, Dona Lica ensinou o ofício aprendido da mãe e de avós para as filhas e vizinhas. O saber, mantido pela oralidade, foi multiplicado por sua filha Maria Xavier Pinheiro Guimarães (Nhanhá), que decidiu criar uma oficina no Museu Regional de

Caeté, espalhando a tradição por centenas de bordadeiras, inclusive de cidades vizinhas. Segundo as próprias artistas, a bainha aberta é um trabalho muito bonito, mas difícil, pois requer atenção e paciência. Diante de um mostruário, com vários tipos, as bordadeiras tecem a renda em pano desfiado de algodão ou linho, que serve de adorno requintado de roupas de cama, toalhas e caminhos-de-mesa, além de peças para igrejas, como os sanguíneos, que cobrem altares.


Anézia Maria Pinheiro

Educadora, ruralista, líder comunitária

Acervo familiar

Filha de Francisco de Assis Morais e Maria Jovelina Magalhães (Maria de Cândida), Anézia Maria Pinheiro nasceu em 18 de dezembro de 1930, no distrito de Morro Vermelho. De família numerosa e simples, começou já na adolescência a trabalhar na lavoura com os pais e irmãos. De rara inteligência e dedicação, aprendeu também os ofícios de costura e bordado. Em 31 de dezembro de 1955, Anézia casou-se com Benedito Evangelista Pinheiro, com quem teve quatro filhos.

Anézia Maria Pinheiro teve atuação destacada no aprendizado escolar do distrito. Mesmo sem formação acadêmica, com a falta de professores no distrito ela comandou as então Escolas Combinadas de Morro Vermelho e do Cutão, povoado a cinco quilômetros do distrito. Depois da chegada de professores formados passou a atuar no comando dos demais serviços escolares, fora das salas de aula. Extremamente organizada e caprichosa, cuidava da escola como se fosse sua própria casa, dedicando carinho e atenção especial aos alunos e a toda comunidade escolar.

Quando se aposentou em 1997, toda a comunidade de Morro Vermelho reconheceu o seu trabalho e dedicação, prestando-lhe uma singela e especial homenagem durante a missa dominical na Matriz de Nossa Senhora de Nazareth. Anézia Maria Pinheiro também teve participação ativa em entidades sociais e religiosas, como a Conferência São Vicente de Paulo, Apostolado da Oração e Pastoral da Criança.

Ela faleceu em 2 de maio de 2001 e, pelos exemplos de dedicação à escola e à comunidade o povo do distrito decidiu dar o seu nome a atual Escola Municipal de Morro Vermelho, que hoje forma alunos até o quinto ano do ensino fundamental.


Geraldo Emílio Lopes (Geraldo Baixinho)

Esportista, ruralista, músico

Geraldo Emílio Lopes (Geraldo Baixinho) nasceu em Morro Vermelho em 3 de abril de 1920. É um dos seis filhos de Francisco Emílio Lopes e Maria Augusta Guimarães (Dona Mica). Casou-se com Maria de Gouvea Lopes (Salia), já falecida, com quem teve oito filhos.

Trabalhador rural, mineiro e metalúrgico, sua história se mistura com a própria história do século 20 em Morro Vermelho. Como os pais e avós, ele ajudou o povoado a crescer. Desde a adolescência, teve presença marcante em todas as festas, promoções e eventos da comunidade.

Integrou a Corporação Musical Santa Cecília, era mordomo assíduo de Nossa Senhora de Nazareth e com a mãe, famosa benzedeira de Morro Vermelho, aprendeu o dom de aliviar dores que Deus só concede aos puros de coração. Ouviu muito, aconselhou a muitos, buscou o bom senso.

Músico, compositor, cantor e seresteiro, ele até hoje tira belos acordes em seu velho cavaquinho e se recorda de antigas canções que embalaram serenatas madrugada afora, alimentando sonhos de lindas mocinhas pelas ladeiras de Morro Vermelho. Exímio bailarino, era o preferido das meninas nos bailes e arrasta-pés do lugarejo.

Esportista, temido lateral esquerdo do time do Natal, granjeou amizades e admiração por toda a região. Ele completou 100 anos em abril 2020, mas devido ao Covid-19, a festa teve de ser adiada. Mas ele está pronto para esperar por muito tempo. Lúcido, de memória invejável, ele acaba de receber o diagnóstico médico de que não precisa tomar remédio algum, basta seguir a vida.

Faleceu em 06 de agosto de 2022, aos 102 anos de idade.


Karl Schimidt

Engenheiro, empresário, investidor em Morro Vermelho

Acervo Familiar

Karl Schimidt nasceu na Áustria em 1934 e se formou em engenharia química na Alemanha, onde se especializou em processamento de fotografia e vídeo. Veio para o Brasil ainda jovem para chefiar, em Minas, a equipe de fotocomposição dos Diários e Emissoras Associados, onde criou um arrojado sistema de processamento de fotos para publicação em jornais e revistas.

Especialista de longa visão, montou logo depois, em 1973, em Belo Horizonte, o LaboFoto Cinematográfico Schmidt, especializado em processamento de filmes e revelação fotográfica e de cinema, com técnica inédita e avançada. Seus métodos de alta tecnologia para a época atraiu a atenção da Sonora do Amazonas Fotoprocessamento, empresa de grande de porte que acabara de se instalar na Zona Franca de Manaus.

Schimidt arrendou todos os equipamentos do laboratório de Minas Gerais à Sonora e se tornou um de seus diretores, chegando a morar por um período em Manaus. Mesmo sediado no bairro Serra, em Belo Horizonte, viajava frequentemente a Manaus para dar consultoria especializada à empresa, o que fez até o fim da vida. Em 1960, casou-se em Belo Horizonte com Neide, com quem teve os filhos Gerhard, Franz e Anne.

A convite do repórter-fotográfico José Nicolau, com quem trabalhou nos Diários Associados, em 1975 seguiu com a família numa Kombi para passar um fim de semana numa chácara, no Largo do Taquaril, no fim da única rua de Morro Vermelho. Rapidamente se encantou com o povoado e com a sua gente, acabando por comprar um ano depois o sítio do amigo. Nos anos seguintes, adquiriu mais sete terrenos na vizinhança, adotando de vez Morro Vermelho como sua segunda pátria.

Aqui Karl Schimidt criou a Fazenda Alpenrose, especializada na criação de búfalos e de peixes. Logo depois, transformou sua casa na Pousada Österreich. Alpenrose é uma região turística de grande afluência turística da Áustria, onde está a famosa Montanha Peluda, ao fundo nos Alpes. Karl dizia que as montanhas e vales de Morro Vermelho tinham grande semelhança com esta região da Áustria.

Ao lado do lago de peixes da fazenda instalou o Restaurante Alpenrose, atraindo para o distrito milhares de turistas, que se encantavam com a sua criação. No restaurante atraia a atenção do público o queijo de búfala e iguarias austríacas e alemãs, como o Eisbein (joelho de porco), Kassler (bisteca), Chucrute, Gulasch Speak (músculo bovino) e salsichões recheados, além de cachaça especial fabricada e armazenada por ele em tonéis de até 50 mil litros. O empresário se preocupava em contratar trabalhadores do próprio distrito para suas diversificadas atividades.

Além desses investimentos, Karl Schimidt tinha vários outros projetos para Morro Vermelho. Em fins de 1986, por exemplo, Karl revelara a amigos que já tinha mantido contatos com empresários na Alemanha para aquisição de equipamentos e instalação de uma fábrica de cerveja artesanal em Morro Vermelho. Só dez anos depois, a cerveja artesanal começou a ser fabricada no Brasil.

Karl Schimidt faleceu aos 53 anos em 4 de janeiro de 1987, em Morro Vermelho, a terra que amava. Este amor ele repassou aos três filhos que até hoje dão andamento aos seus negócios.

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4 respostas

  1. Maravilhosa e super necessária iniciativa. Resgatar e divulgar a história de Morro Vermelho é importante. As pessoas deveriam colaborar com esta iniciativa, mandando, também, fotos antigas de moradores, pois já vi que este site tem tudo para se transformar em um museu virtual do Morro.

    1. Olá, Milu! Super válida a sua observação. Toda e qualquer foto e/ou informação sobre o Morro Vermelho será muito bem-vinda para agregar ao nosso conteúdo. Obrigada pelo contato!

  2. Boa noite! Sou estudante de história da UFMG e estou pesquisando a história de meu avô, se chamava Geraldino Pires de Gouvêa Filho e nasceu em morro vermelho, como ele morreu quando minha mãe era ainda adolescente, sei muito pouco sobre ele. Mas ele foi fotógrafo e viveu e morreu em Congonhas.
    Tenho a certidão de nascimento dele, com o nome de seus pais e avós, que acredito serem de Morro Vermelho também. Vocês podem me ajudar com outros documentos? Acredito que meu avô nasceu por volta de 1930, e por meio desse site eu descobri que ha uma conexão com a fotografia em morro vermelho!

  3. Eu parabenizo pelo belo trabalho em me fazer conhecer mais minha origem e como tem tanta gente que não imaginava, que fizeram tanto pelai minha linda terra. Nunca imaginava tudo que estou descobrindo
    Vou ressaltar o que senti muita falta foi da minha vovó, Maria de Candida que dou sua vida missão aos pobres e a igreja. De todos que foram citados merecem, mas ela muito mais. Obrigada!

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