O grande milagre de Morro Vermelho

Mudo de nascença, menino de 5 anos dispara a falar ao tocar a Bandeira de Nossa Senhora de Nazareth

Ao centro, Carlos Alberto (Lôro), ao lado de seu pai, Zé Pedro. Foto: arquivo de família

 

 

 

 

 

 

 

Os prodígios de Cristo na terra, por intercessão de sua mãe, Maria de Nazareth, muitas vezes vão além da compreensão humana. Diante, por exemplo, de um problema sério de saúde, incapaz de ser resolvido pela ciência dos homens, gente de fé inabalável apela para os céus na esperança de ser atendida. Pede-se por anos seguidos um favor, uma bênção, um milagre. E até parece que Maria ignora o pedido, talvez para testar o nível de fé de seus devotos. Mas para os que insistem e nunca desistem, eis que, pluft, o milagre acontece em todo o seu esplendor.Depois de muita súplica, Raimunda Talini dos Santos foi testemunha de um dos maiores prodígios da Virgem Santíssima em Morro Vermelho, onde a poderosa Santa é venerada como padroeira desde 1700. Mulher do comerciante e fazendeiro José Pedro dos Santos, o Zé de Solu, que por mais de 40 anos venerou Maria como embaixador da Cavalhada Nossa Senhora de Nazareth, ela não sabia mais o que fazer diante de uma doença grave de um dos filhos.

Carlos Alberto Talini dos Santos, conhecido no povoado como Lôro, nasceu em 1951 em Morro Vermelho com um problema sério nas cordas vocais. O menino era mudo de nascença. Durante seguidas idas e vindas a fonoaudiólogos, otorrinolaringologistas e outros especialistas, Raimunda também apelava seguidas vezes para a Santa de devoção. E foi assim até que os médicos desenganaram de vez a família: o Lôrinho ficaria mudo pelo resto da vida. O prognóstico não parou por aí. O menino também não aprenderia a ler, escrever, e sua cabeça ficaria maior que seu corpo.

Às vésperas da Festa de Nossa Senhora de Nazareth de 1956, Raimunda Talini, mais conhecida com Mundica, envolta em uma mistura de pavor e esperança, se prostrou diante de uma pequena imagem de Maria com o marido e os filhos, inclusive com o pequeno Lôro. Todos, com muita fé, exaltaram Maria de Nazareth e mais uma vez ela pediu um milagre: pela saúde do menino, entregaria seu filho à Virgem Maria, como Seu próprio filho. Zé de Solú chegou até prometer à Virgem que custearia sozinho todas as despesas da Cavalhada, se o filho soltasse a voz.

Na época, em 7 de setembro, depois de enfeitada por Jovelina Marques Guimarães, dona Jove, a Bandeira de Nossa Senhora de Nazareth seguia no final da tarde para o Largo da Rua de Baixo, de onde à noite era levada até a Praça da Matriz por 12 cavaleiros cristãos e 12 mouros. O estandarte saía justamente da porta da casa de Zé Pedro, onde ficava por algumas horas.

Já era cinco horas da tarde quando a Bandeira chegou à residência do fiel embaixador. E, logo que o estandarte entrou na sala, o menino mudo, ao tocar na imagem de Nossa Senhora de Nazareth, gritou exultante em alto e bom som: “Mãe”! Era a voz do pequeno Carlos Alberto. Da cozinha, Mundica correu apressada, pegou o filho no colo e se ajoelhou, agradecida e em prantos, diante da Bandeira. E o menino feliz disparava a falar pela casa toda até a rua.

Hoje, com 73 anos, o falante Lôro é empresário em Belo Horizonte e empreendedor de sucesso em Barcarena, perto de Belém (Pará). Por ironia, fé ou propósito, após insucessos na vida profissional, Lôro teve seu destino ligado ao estado que tem por padroeira a mesma Santa, onde o Círio de Nazaré reúne, em outubro, mais de um milhão de devotos. “Todos os anos, ao chegar setembro, esteja onde estiver, sigo de barco, avião ou carro para Morro Vermelho. Vou venerar a mãe que me guia, a Maria de Nazareth e buscar com ela forças para seguir a vida”, afirma, sem se cansar de agradecer o grande milagre.

Texto: Jornalistas Geraldo Lopes e Viviane Pinheiro

Carlos Alberto venerando a bandeira de Nossa Senhora de Nazareth (2024)

 

 

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