Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

A mais antiga edificação do distrito, a Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Arraial do Morro Vermelho foi construída em 1703, mas só foi reconhecida pela Coroa Portuguesa em 1793, a pedido do ouvidor da Comarca de Sabará, embora já tivesse sido agregada à Matriz de Nossa Senhora de Nazareth pelo bispado. Seu grande momento histórico foi a primeira eleição direta das Américas, realizada no seu adro pelos povos de Sabará, Caeté e Sabará em dezembro de 1707, no início da Guerra dos Emboabas.

Tem corpo único com sacristia na lateral direita. No seu interior, possui nave com coro cercado de balaustrada de madeira, teto pintado com a imagem da Virgem do Rosário e ornamentos de anjos e flores.

Nas extremidades, há pinturas das imagens dos evangelistas. Também na nave há o púlpito do lado esquerdo e dois altares sem grandes ornamentações. O altar-mor é todo pintado, imitando mármore. O teto é pintado, tendo uma pomba ao centro e anjos nas laterais.

Apesar da sua importância histórica, a capela não é protegida pelo Iphan pelo simples motivo de apresentar no teto interno pinturas superpostas, mas é tombada pelo patrimônio histórico municipal. Foi recentemente restaurada.

Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (3)
Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (1)

MEMORIAL DA ARQUIDIOCESE

Segundo o Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, a Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos pertence à Paróquia de Nossa Senhora de Nazareth e tradicionalmente afirma-se que tenha sido erigida em 1703, porém, o primeiro registro encontrado de sua existência data do ano de 1790, tratando-se do livro de Compromisso da Irmandade da Virgem Senhora do Rozario dos Pretos do Arrayal do Morro Vermelho da Freguezia da Senhora do Bom Sucesso do Caeté Comarca de Sabará.

Nesse documento encontra-se o seguinte relato: “E como esta Irmandade já tem sua capela própria ereta com licença unicamente do Ordinário do Bispado, faltando a essencial, que é a de Sua Majestade Fidelíssima, como Governadora e perpétua Administradora do Mestrado, Cavalaria e Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, a qual por ignorância não procurou conseguir; agora adepreça (implora) da Real Piedade de Vossa Majestade, com a aprovação da mesma Irmandade, e confirmação destes Estatutos”.

No Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, em Portugal está arquivada carta de 1793 de Paulo Fernandes Viana, ouvidor da Comarca do Sabará, dando seu parecer sobre a indevida ereção de capela, fora da Igreja Matriz, pelos irmãos da Irmandade do Rosário dos Pretos do arraial do Morro Vermelho, freguesia do Bom Sucesso, da Vila Nova da Rainha, da referida Comarca.

A citação demonstra que no ano de 1790 a capela já se encontrava construída e em uso, faltando, no entanto, a autorização da Coroa Portuguesa para seu funcionamento, bem como a aprovação do referido Livro de Compromisso. Sobre essa questão, o ouvidor responde que, por se encontrar tão próximo à Matriz, não haveria mesmo a necessidade de tal construção.

Entretanto, finaliza deliberando nos seguintes termos: “É, pois, o mesmo parecer, que visto estar já erigida a Capela sem necessidade alguma, quando Vossa Majestade haja por bem de confirmar a sua ereção, e o Compromisso que Irmandade recorrente tem apresentado, seja sempre se considerando a dita capela como um Altar Volante da Matriz, anexo a ela, com inteira sujeição ao seu pároco, e ilesos todos os direitos e regalias paroquiais”.

O documento final, com a devida determinação real não foi localizado, mas infere-se que a sugestão dada pelo ouvidor da comarca tenha sido acatada pela Coroa, pois nas visitas pastorais, executadas pelo então bispo, dom Frei José da Santíssima Trindade, entre 1822 a 1825, a capela não é citada como filial da Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, ao contrário da Igreja de Nossa Senhora de Nazareth, também localizada no arraial do Morro Vermelho.

Essa última, elevada à freguesia a partir do ano de 1880, por meio da Lei Mineira nº 2.709, de 30 de novembro, passa a ter como sua filial a Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. A elevação por instituição canônica ocorreu por provisão episcopal de 15 de maio de 1885.

Segundo o memorial, tendo como referência suas duas igrejas setecentistas, o distrito de Morro Vermelho é extremamente marcado pelas tradições, onde destacam-se as festas religiosas, mantidas de forma fervorosa pela população local, tais como: a Semana Santa, a Festa de Nossa Senhora de Nazareth e a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Como desdobramento essa última, encontra-se a tradicional Festa do Aluá, realizada anualmente no mês de outubro e organizada pela Irmandade.

Faz parte de suas celebrações o Cortejo do Aluá, procissão com ampla adesão popular, que percorre as ruas centrais do distrito, carregando a bandeira de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos à frente, cantando e tocando instrumentos. Seu nome, aluá – corruptela de “ao luar”, pois seu preparo era sempre à noite, de forma furtiva, se refere a uma bebida tradicional dos escravos, que trabalhavam na mineração. Não possui teor alcoólico, tem cor de garapa e é preparada à base de abacaxi.

A festa inclui, também a Cavalhada Mirim, que ocorre no adro da Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. As crianças montadas em cavalinhos de pau enfeitados com tampinhas amassadas (imitando o som do guizo) reproduzem as evoluções da Cavalhada de Nossa Senhora de Nazareth, acompanhadas pela Sociedade Musical Santa Cecília de Morro Vermelho.

Arquitetura: A edificação localiza-se em amplo adro, às margens da estrada que liga o distrito de Morro Vermelho à cidade de Raposos. O adro é gramado e pontuado por vegetação arbustiva de médio porte; apresenta topografia irregular, sendo delimitado por cerca de arame. O edifício segue o modelo habitual das capelas do segundo tipo do período colonial na Capitania de Minas Gerais, surgida em meados do século XVIII. As volumetrias são definidas pela nave, capela-mor, mais estreita, menor e mais baixa em relação àquela primeira, e a sacristia disposta lateralmente à capela-mor.

A fachada plana é resolvida com grande simplicidade: porta central e três janelas rasgadas à altura do coro, dispostas em triangulação. As janelas central e lateral esquerda abrigam sinos, cumprindo o papel de sineiras. Acima, localiza-se pequeno óculo. Os telhados sobre a nave e capela-mor acontecem em duas águas, com estrutura de madeira e vedação em telhas cerâmicas curvas. Neles, a presença do contrafeito imprime grande elegância ao elemento. A sacristia recebe telhado de uma água.

Internamente a capela segmenta-se em átrio com coro alto, nave e capela-mor unidas pelo arco-cruzeiro, e sacristia à direita da capela-mor. O coro é acessado por escada em madeira, localizada no átrio, ao fundo. A balaustrada torneada é pintada em azul. Na nave, o piso é feito em tabuado de madeira, com paredes caiadas de branco e amarradas por tirantes de madeira. Os vãos das ilhargas estão dispostos simetricamente, configurando estreitas e profundas seteiras fechadas por vidro fixo.

No lado do Evangelho, localiza-se o púlpito, ao qual se ascende por meio de escada. Nos ângulos do arco-cruzeiro, situam-se os altares colaterais. O forro é executado em tabuado de madeira, de formato trifacetado, tendo ao centro pintura com representação da aparição da Virgem Maria a São Domingos de Gusmão, ocorrida em 1214, na igreja do mosteiro de Prouille, na qual a mãe de Jesus entregou o Rosário ao fundador da Ordem Dominicana. Nas laterais apresenta pintura simulando balcão simplificado, com ornamentação fitomorfa, interceptado por montantes sobre os quais se assentam anjos que seguram cordão de folhagens que contornam todo o perímetro do forro. Nos ângulos, medalhões moldurados com efígies dos Evangelistas.

A capela-mor mantém o mesmo acabamento do piso e paredes da nave, sendo o presbitério mais elevado em relação à capela-mor. Nele, ao lado da Epístola, localiza-se abertura guarnecida de uma balaustrada em madeira recortada e pintada em azul, que permite conexão com a sacristia. Ao fundo, em posição de destaque se encontra o retábulo-mor. O forro em tabuado de madeira, de formato abobadado, apresenta ao centro pintura com a representação do Santíssimo Sacramento, em formato de pomba, circundado por nuvens e ladeado por anjos com arranjos florais nas mãos. Em todo o perímetro, a pintura simula moldura em faixa lisa com decoração adamascada, e friso em cujos ângulos se forma elemento fitomorfo.

Ainda sobre os altares, pode-se afirmar que os três são em tabuado de madeira, sendo o altar-mor com pintura em marmorizado, datável do século XIX. Os laterais mostram mistura de aspectos que podem ser remetidos a diversos estilos de diferentes épocas, prevalecendo linhas neoclássicas.
Quanto à sacristia, possui piso em madeira, paredes caiadas e teto de telhas (telhado sem forro). Ao fundo, no lado do Evangelho, possui porta de acesso ao espaço sob o retábulo e à escada do camarim. Nela ainda se encontra porta e janelas voltadas para a frente e lateral da capela, respectivamente.

Devido à sua importância, a capela foi tombada pela municipalidade, por meio do Decreto nº 2.016/04, de 06 de abril de 2004. Além disso, em seu Dossiê de Tombamento, se afirmam que a edificação “tem extrema significatividade histórica para a comunidade descendente afro-brasileira, que nesta capela manifestou na resistência às tentativas de aculturação e fez prevalecer suas tradições”.

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