Matriz de Nossa Senhora de Nazareth

Conta a história que em 1182 o cavaleiro Dom Fuas Roupinho perseguia um veado e, quando este desapareceu, teve diante dos olhos um abismo, invocando então a proteção da Virgem Maria. Foi salvo quando estava prestes a cair de um rochedo que despencava para o mar. Pelo milagre, dom Fuas Roupinho, alcaide-mor de Porto de Mós, mandou construir no local a Capela da Memória, visível do oceano a grande distância. No século 14, foi ali construída uma igreja. Dom João II e Dom Manuel fizeram modificações e no século 17 uma igreja nova substituiu o velho templo. O título da invocação deu nome à vila da Nazaré, onde a imagem é venerada no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré. Dali a devoção se espalhou por todo o mundo.

Na igreja de Morro Vermelho, a cena do primeiro milagre está pintada no teto da nave. A matriz atual, que substituiu uma antiga capela de 1700, foi erguida em 1713 pelo capitão-mor Paulo Rodrigues Durão, pai do poeta de O Caramuru, frei Santa Rita Durão. A data existente na capela-mor (1869) refere-se à sua reforma, pois está também na fachada. A matriz foi tombada em 1950 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A paróquia foi criada em 30 de novembro de 1880 pela Lei 2.709 e hoje pertence à Arquidiocese de Belo Horizonte. Seu primeiro vigário foi o padre Francisco de Assis Chagas. A imagem de Nossa Senhora de Nazareth mostra a Virgem de túnica, véu e brincos, com o Menino Jesus nos braços. A matriz foi restaurada recentemente com a ajuda dos moradores e abriga rico acervo de altares e imagens, com as da padroeira, Senhor dos Passos e São José de Botas.

Segundo o Iphan, a igreja guarda o aspecto original das matrizes setecentistas mineiras em madeira e adobe, com fachada encimada por frontão triangular e duas torres quadradas com cobertura de telhados de quatro águas. Tem à frente um amplo adro, ainda hoje cenário de importantes manifestações religiosas e folclóricas, entre as quais tem especial relevância a festa da padroeira. Informa que do conjunto de retábulos que decoram o interior da Matriz, apenas o altar-mor teve a sua talha concluída. Os altares do cruzeiro, de tábuas lisas, conservam interessante pintura ilusionista à imitação de talha, solução provisória que geralmente antecedia a confecção do retábulo definitivo.

Na capela-mor situam-se as principais obras ornamentais do templo, tanto no que se refere à talha quanto à imaginária e pintura. A estrutura do retábulo é bastante simples, mas a confecção da talha é de boa qualidade. Colunas torsas e quartelões constituem os elementos de suporte, coroados por uma arcada côncava, tendo ao centro um medalhão com o brasão da Virgem. Os nichos laterais apresentam duas excelentes peças de imaginária mineira, São João Nepomuceno e Santo Antônio.

No trono a imagem de Nossa Senhora de Nazareth, que tem origem portuguesa. O forro da capela-mor apresenta pintura de estilo rococó com muro-parapeito contínuo nas laterais, sem ligação com a visão da parte central, que ilustra o tema da Assunção da Virgem, em moldura de nuvens brancas e cinzentas. Atrás do mesmo veem-se as figuras dos quatro doutores da Igreja, os santos Gregório e Jerônimo à esquerda e Ambrósio e Agostinho à direita. Também o forro da nave é decorado de pintura de perspectiva ilusionista, provavelmente de fins do século 19.

MEMORIAL DA ARQUIDIOCESE

Arquitetura – A Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazareth é o edifício de maior destaque no distrito de Morro Vermelho, implantado em um amplo adro alteado, razoavelmente plano e pavimentado em terra vermelha, origem do nome do povoado. O partido arquitetônico segue o modelo tradicional da arquitetura religiosa barroca luso-brasileira, elaborado e difundido a partir das últimas décadas do século 17 e século 18. Consiste em um corpo alongado, cuja entrada é ladeada por duas torres quadradas, externas, mais altas, seguidas pela nave única, em altura intermediária, e a capela-mor, um pouco mais baixa, modelo que foi amplamente empregado nas igrejas matrizes mineiras coloniais.

O templo é resultado da sobreposição de camadas históricas, materializadas em inúmeras intervenções. Seu sistema construtivo em madeira e adobe é característico das igrejas mais antigas e situadas em freguesias com menos recursos, chegando ao nosso tempo como testemunho material de técnicas, saberes e fazeres tradicionais. Seu interior, por outro lado, foi objeto de atenção e do cuidado dos devotos, passando por diversas alterações que, entretanto, concorreram para a constituição de uma unidade estilística rococó, caracterizada pelos espaços amplos, bem definidos e iluminados de forma equilibrada; pelas superfícies lisas e claras nas paredes, altares e forros; pelo altar-mor e tribunas, forros e altares colaterais que se amoldam bem às características do espaço rococó.

Iconografia – A devoção a Nossa Senhora de Nazareth tem sua origem ligada à história de nobre português dom Fuás Roupinho, que, durante a caça a um animal, viu seu cavalo saltar sobre um penhasco. Lembrando-se de uma pequenina imagem da Virgem Maria que avistara em sua corrida, implorou por seu socorro e, milagrosamente, o cavalo estacou, salvando-o da queda. Refeito do susto, dom Fuás dirigiu-se ao local onde avistara Nossa Senhora para lhe agradecer, quando encontrou preso a ela um pergaminho que narrava a história de sua efígie, já venerada em Nazaré nos primeiros tempos do cristianismo.

Lendo este relato, dom Fuás mandou erguer no local em que encontraram a imagem um santuário que perpetuasse o culto de sua protetora, Nossa Senhora de Nazareth. A igreja foi construída no alto de um penedo, em Portugal, e é visível do mar, a longa distância, por isso a Virgem tornou-se padroeira dos navegantes. Foram eles que propagaram o seu culto, transportando-o para o Brasil, que aqui se localizou principalmente na Amazônia, Pará, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em Minas Gerais foram construídas várias igrejas no período colonial sob sua invocação.

Átrio – Segundo memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, o átrio da igreja (entrada) apresenta no forro pintura da segunda metade do século 19, representando as três virtudes teologais – Fé, Esperança e Caridade –, por meio de figuras femininas. As virtudes teologais são um caminho para um maior conhecimento e amor de Deus, dons divinos que ajudam o fiel a praticar atos virtuosos no seu dia a dia. Somam-se às virtudes teologais as virtudes cardeais: Prudência, Justiça, Força e Temperança.

À esquerda do átrio localiza-se o batistério, cuja pia batismal, esculpida em pedra sabão, é datável do século 18, com acabamento elaborado ao gosto joanino.

Nave – O forro da nave, em abóboda facetada de formado retangular, mostra pintura à têmpera com características neoclássicas, de fins do século 19. Apresenta painéis com as representações dos quatro evangelistas – João, Mateus, Lucas e Marcos – nas laterais esquerda e direita, e do milagre de Nossa Senhora de Nazareth a dom Fuas Roupinho, ao centro. À esquerda do arco-cruzeiro, localiza-se altar colateral de Nossa Senhora das Dores e Senhor dos Passos, peça em madeira recortada com pintura simulando talha, de gosto rococó tardio.

Na cartela estão representados símbolos da Paixão de Cristo: coroa de espinhos e punhal cravado, além da inscrição Ecce Homo, o que justifica a exposição no trono das duas imagens. À direita do arco-cruzeiro, o altar colateral de São José, também em madeira recortada e policromada, com inscrição em cartela: “Esposo de Maria da qual nasceu Jesus”.

Integrados ao arco-cruzeiro, encontram-se dois púlpitos em formado de caixa retangular com ângulos chanfrados, de fins do século 18, destinados a homilias e sermões. A inserção dos púlpitos no arco-cruzeiro constitui solução menos frequente nas igrejas mineiras setecentistas, localizando-se geralmente no lado esquerdo e direito da nave.

Capela-mor – No forro da capela-mor localiza-se pintura rococó da última fase dos tetos em perspectivas em Minas, cujo quadro central tem por tema a Assunção de Nossa Senhora ao céu. O altar-mor, datável de fins do século 18 ou início do 19, ao gosto rococó, possui monograma da Virgem Maria, símbolos da Eucaristia e representação do Divino Espírito Santo no forro camarim. Nele está entronizada a imagem de Nossa Senhora de Nazareth, peça de meados do século 18, de provável origem portuguesa, obra de artista erudito, com tratamento requintado.

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